sábado, 23 de agosto de 2008

Corpo e sociabilidade na internet

Carol Pontes


A representação simbólica do corpo no ambiente virtual afeta o modo como as pessoas se percebem e interagem na internet.

Freqüentemente, podemos observar que as pessoas que costumam atualizar a publicação das próprias fotos em sites de relacionamentos tendem a receber muito mais visitas em seus perfis que as pessoas que não publicam novas fotos.

Quanto mais interessantes ou bonitas essas fotos parecerem à audiência, muito mais comentários esse usuário tenderá a receber, de modo a podermos observar uma maior tendência à interação e ao diálogo.

Em alguns casos, o usuário pode, inclusive, receber convites de pessoas até então desconhecidas e passar a integrar suas respectivas redes de amigos.

Esse fenômeno está cada vez mais freqüente, especialmente após a popularização da prática de criação de avatares. No Second Life, por exemplo, o usuário cria um avatar para interagir com outros habitantes dessa realidade virtual e passam a participar de comunidades de práticas, nesse ambiente, com pessoas que até então não participavam de sua vida.

Contudo, a tecnologia oferece recursos que viabilizam a criatividade dos usuários, de modo que as pessoas possam editar e manipular suas fotos e criar personagens, modelando o próprio corpo no ambiente virtual.

Desse modo, caso o usuário julge necessário 'acrescentar' ou 'omitir' alguma característica pessoal para passar a participar de um certo grupo, ele irá recorrer à tecnologia para atingir o seu propósito de modo a ser reconhecido por seus pares como um semelhante.

Em outras palavras, se o usuário é baixinho, gordinho, careca e desdentado, mas deseja ser reconhecido como uma pessoa sexy, ele pode manipular e editar suas imagens de modo que os demais o reconheçam como uma pessoa interessante.

Não é em vão que as redes de relacionamentos online utilizam o recurso 'foto' no perfil dos usuários. A foto é o principal recurso de identificação do usuário pelos demais integrantes da rede, pois caracteriza a re[a]presentação pública do usuário no ambiente, que é complementada pelos campos preenchidos pelo usuário no perfil.

Além das fotos, os usuários podem, em alguns casos, adicionar vídeos pessoais à rede, de modo a criar versões dos ambientes físicos, de si e dos demais nos ambientes virtuais.

Emoticons, gifs animados e as vídeo conferências são outras modalidades de apresentação disponíveis aos usuários que, através desses recursos podem, inclusive, se comunicar recorrendo aos aspectos não-verbais da conversação[1].

Em suma: as tecnologias estão ai e com elas a nossa possibilidade de editar, recortar, copiar, colar e até mesmo deletar pessoas e coisas das nossas vidas, inclusive a nós mesmos, enquanto construímos novas versões de nós, das nossas relações com o mundo e com as coisas, deixando nossos rastros pela rede[2].

Referências Bibliográficas:

[1] DE OLIVEIRA, R. (2007). Uso de marcas verbais para os aspectos não-verbais da conversação em salas de bate-papo na internet. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva.

[2] DE FRANÇA, A. C. P. (2008). Self Digital: explorações acerca da construção do "eu" na internet. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva.

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